O QUE A ERGONOMIA TEM A VER COM HIPERTENSÃO ARTERIAL?
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Dia 26/04 é Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial (HAS), criado para conscientizar a população sobre a importância do diagnóstico preventivo e do tratamento da doença.
 
Nesse post falaremos da HAS, mas num olhar do trabalho, ou seja, os fatores de trabalho que poderiam agravar ou causar o aumento da pressão arterial e como a Ergonomia pode atuar sobre isso.
 
Quando falamos da ligação da Ergonomia com a Saúde, normalmente pensamos em LER/DORT ou lombalgia, mas dificilmente ligamos a Ergonomia à HAS.
 
A HAS, também conhecida como “pressão alta”, é a elevação sustentada dos níveis de pressão arterial (PA), acima de 140×90 mmHg (pela nova Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia), popularmente chamada como “14/9”. 
 
A hipertensão é reconhecida como um problema mundial estima-se que 1 em cada 3 adultos de 25 anos ou mais seja afetado pela doença, totalizando cerca de 1 bilhão de pessoas.
 
No Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (Elsa-Brasil), a investigação de 15 mil funcionários de 6 instituições públicas de ensino superior mostrou que 37% (5.667) da população brasileira estudada foi classificada como hipertensa.
 
Na maior parte das pessoas, a HAS se apresenta como uma condição frequentemente assintomática e que costuma evoluir com alterações estruturais e/ou funcionais em órgãos-alvo, como coração, cérebro, rins e vasos. Várias pesquisas têm mostrado que muitas pessoas não sabem que têm pressão arterial elevada, porque ela nem sempre causa sintomas. A consequência disso são as mais de 9 milhões de mortes a cada ano, sendo quase a metade por doença cardíaca e derrame. No Elsa, o resultado não foi diferente, mostrando que dos 5.667 caracterizados como hipertensos, quase 23% não sabiam do problema.
 
A pressão alta é o principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares, doença renal crônica e de morte prematura. De acordo com a OMS, a pressão arterial elevada contribui para cerca de 9,4 milhões de mortes por doenças cardiovasculares a cada ano. Além de aumentar as condições de risco de insuficiência renal e cegueira, dentre outras condições.
 
Em relação às causas, a HAS trata-se de uma condição multifatorial, que depende de fatores genéticos, ambientais e sociais. A figura abaixo mostra a interação desses fatores para elevar a PA.
 
 
Ainda dentro das causas, a HAS pode ser primária (quando é determinada geneticamente) ou secundária (quando decorrente de outros problemas de saúde).
 
É fundamental identificar a HAS e diagnosticar a origem do problema, para que seja introduzido o tratamento adequado.
 
Vamos fazer um resumo dos fatores de risco, para no fim falarmos do fator trabalho:
> Genética: os fatores genéticos podem influenciar os níveis de PA entre 30-50%.
> Idade: com o envelhecimento, a PAS torna-se um problema mais significante, sendo que cerca de 65% dos indivíduos acima dos 60 anos apresentam HA.
> Sexo: Em faixas etárias mais jovens, a PA é mais elevada entre homens, mas a elevação pressórica por década se apresenta maior nas mulheres.
> Etnia: em nosso país, não há ainda uma diferença significativa entre negros e brancos no que diz respeito à prevalência de HA.
> Sobrepeso/Obesidade: há uma relação direta, contínua e quase linear entre o excesso de peso (sobrepeso/obesidade) e os níveis de PA.
> Alimentação: Os padrões alimentares considerados saudáveis têm sido associados à redução da PA. A ingestão elevada de sódio tem-se mostrado um fator
de risco para a elevação da PA.
> Sedentarismo: há uma associação direta entre sedentarismo (menos de 150 minutos de atividade física por semana ou 75 minutos de atividade vigorosa por semana), elevação da PA e da HA.
> Fatores Sóciodemográficos: entre os fatores socioeconômicos, podemos destacar
menor escolaridade e condições de habitação inadequadas, além da baixa renda familiar, como fatores de risco significativo para HA.
> Medicações: algumas medicações, muitas vezes adquiridas sem prescrição médica, e drogas ilícitas têm potencial de promover elevação da PA ou dificultar seu controle.
> Apneia Obstrutiva do Sono (AOS): há clara evidência que sustenta a relação entre a AOS e a HA e o aumento do risco para HA resistente.
> Tabagismo: existe correlação entre o fumo e a HAS, de forma que ele é o único fator de risco totalmente evitável de doença e morte cardiovasculares.
> Alcoolismo: Há maior prevalência de HA ou elevação dos níveis pressóricos naqueles que ingerem o equivalente a 30 g de álcool/dia ou mais.
> Trabalho: a comprovação científica da relação entre trabalho e HAS ainda é controversa, pois são vários tipos de estudos, metodologias de avaliação do estresse e da demanda causada pelo trabalho e seria inviável tentar controlar todos esses fatores em um único tipo de estudo. 
 
 A pressão arterial é um parâmetro fisiológico que sofre contínuas flutuações em torno de valores médios em decorrência de flutuações do retorno venoso, débito cardíaco e resistência vascular periférica.
 
O indivíduo pode ter um aumento da pressão arterial mediante interação de vários agentes de natureza química, física e psíquica, presentes nos ambientes de trabalho.
Entre eles se destacam:
 
> Trabalho em turnos;
> Exposição ao ruído;
> Exposição a substâncias tóxicas.
> Gasto energético no trabalho
> Alta demanda psicológica;
> Baixo nível de controle sobre o próprio trabalho;
> Baixo suporte social no trabalho.
> Aumento da carga de trabalho;
> Insatisfação, alienação, monotonia e frustração com o trabalho;
> Insegurança no emprego;
 
Vamos detalhar os itens citados acima.
 
> Trabalho em turnos;
Algumas pesquisas relatam que a hipertensão arterial pode estar associada ao trabalho em turnos e aumentar o risco de doenças cardiovasculares. Outras não encontraram diferença significativa na prevalência de HAS entre trabalhadores em turnos ininterruptos de revezamento (12,2%) e em horário administrativo (10,4%). Também não foi encontrada uma confirmação científica robusta de que o prolongamento da jornada de trabalho pode aumentar a pressão arterial.
 
> Exposição ao ruído;
A exposição ao ruído ocupacional pode ter efeitos sustentados e não transitórios, sobre o sistema vascular, gerando lesão endotelial induzida pela ativação simpática, levando ao aumento da resistência vascular sistêmica e desencadeando HAS. Outros estudos mostram uma associação entre o tempo de exposição e a PA. Em algumas classes de trabalhadores, como os pilotos de avião, a exposição crônica ao ruído é um fator de risco para a HAS.
 
> Exposição a substâncias químicas.
Existe relação entre a HAS e a exposição ocupacional a vários agentes químicos tóxicos. A título de exemplo, a exposição prévia ao dissulfeto de carbono (CS2) foi relacionada ao aumento da PA.
 
> Gasto energético no trabalho
Todos sabemos que a maioria dos trabalhadores brasileiros não são, necessariamente, ativos fisicamente, dentro do peso corporal adequado e com todas as necessidades nutricionais atendidas. Esses itens geram problemas na relação capacidade do trabalhador e demanda de trabalho, sobrecarregando muito o sistema cardiovascular.
 
A atividade física ou a atividade de trabalho com uma demanda física considerável (como entregadores de cargas ou o pessoal do setor de expedição) requer um ajuste da PA durante e após o esforço e esse ajuste acontece em resposta aos estímulos recebidos pelos receptores de pressão, que tem seu funcionamento melhorado à medida que a pessoa pratica atividade física. 
 
Isso quer dizer que um bom funcionamento desses barorreceptores é proporcionado pelo exercício físico e que em indivíduos sedentários, o descondicionamento físico afeta
negativamente a função do sistema desses receptores, fazendo com que este mecanismo de controle da PA não funcione adequadamente.
 
O sedentarismo pode levar ao mau funcionamento deste sistema de controle de pressão, o qual tem sido associado à manutenção elevada dos níveis de PA.
 
Além disso, há o fato de que o organismo desses trabalhadores sedentários estarem mal alimentados, ou pelo menos mal nutridos, o que gera dificuldades de prover o aporte necessário para produção de energia.
 
Nesse cenário de sedentarismo e má alimentação, o trabalhador é submetido a uma carga de exercícios com intensidade moderada a alta por horas, em dia consecutivos, gerando ainda mais sobrecarga no sistema cardiovascular, podendo levar ou intensificando o aumento da pressão arterial e consequente HAS.
 
Um trabalhador que atua como entregador de mercadoria, faz atividade física moderada a alta por 4 a 5 horas por dia, sem se alimentar corretamente e com um histórico de anos de sedentarismo.
 
Do outro lado da régua de graduação do gasto energético no trabalho estão as atividades administrativas, as quais trabalhadores permanecem sentados por horas, sem se movimentarem o suficiente para elevar a FC a níveis mínimos. Nesse caso, a própria atividade favorece o sedentarismo, também favorecendo a elevação da PA.
 
Por fim, juntamos os 6 agentes restantes para falarmos de estresse no trabalho e seus pormenores...
 
> Alta demanda psicológica;
> Baixo nível de controle sobre o próprio trabalho;
> Baixo suporte social no trabalho.
> Aumento da carga de trabalho;
> Insatisfação, alienação, monotonia e frustração com o trabalho;
> Insegurança no emprego;
 
O estudo Elsa mostrou a alta frequência de HAS e sugeriu que a medida pressórica encontrada indicava um grau elevado de “estresse no trabalho”.
 
A pressão elevada depende, principalmente, da ativação simpática decorrente do estresse ocasionado pelo trabalho.
 
Em estudos com medida da PA monitorizada (MAPA), foi possível identificar efeito da PA à exposição gradativamente mais intensa ao estresse no trabalho. Além disso, existem resultados de estudos prospectivos que sugerem não só associação positiva, mas também o efeito cumulativo da exposição. 
 
O estresse no trabalho está associado à HA em várias classes profissionais, tais como enfermeiros, gestores administrativos e outros.
 
Ambientes de trabalho estressantes são muitos comuns (isso não é surpresa pra nós, Ergonomistas), o que pode ser extremamente danoso para a saúde dos colaboradores e para a produtividade da empresa. 
 
A pesquisa feita pela Wrike, com mais de 1.400 profissionais pelo mundo, apontou quais são as principais causas de estresse no ambiente de trabalho. A seguir, temos as 10 principais causas:
 
 
Perceba que mais da metade dos trabalhadores apontou como fonte de irritação o desencontro de informações e os problemas decorrentes da priorização de uma ou outra tarefa.
 
Esses itens causam ou ampliam o estresse, que é considerado como fator de risco para a HAS. Esse estresse pontual ou duradouro, por dias, meses, gera uma estimulação prolongada da resposta de defesa do organismo, com a liberação de catecolaminas e renina, que é um dos mecanismos que explicam a HAS sustentada. 
 
Uma situação de estresse agudo (aquele que acontece por um determinado evento) vem acompanhada de elevação transitória da pressão arterial e a repetição continuada desta situação pode, por si só, elevar permanentemente a pressão arterial.
 
Muitos estudos foram realizados para investigar a relação entre a pressão arterial, as demandas psicológicas e o nível de controle sobre o próprio trabalho e mostraram uma correlação significativa do aumento da PA com o desgaste no trabalho. 
 
Algumas hipóteses sustentam o modelo “demanda-controle” (demanda de trabalho, controle por parte do trabalhador de resolver suas dificuldades):
 
> As ocupações que apresentam sobrecarga excessiva de demandas psicológicas e pouca amplitude de decisão (ou controle) no processo de trabalho produzem grande desgaste (“strain”).
 
> Demanda excessiva, combinada com um grande controle sobre o processo de trabalho, conduz a um aprendizado ativo de novos comportamentos e, possivelmente, contribuem positivamente para o status de saúde através de mudanças positivas, de longo prazo, em comportamentos de enfrentamento. 
 
> Possuir controle sobre o processo de produção do trabalho, também implicaria na menor ocorrência de desfechos negativos na saúde, especialmente as doenças cardiovasculares.
 
Estudos mostram que trabalhadores que desenvolvem atividades com maior desgaste mental teriam maior prevalência de HAS. Outros apontam que os trabalhadores com menor controle sobre seu processo de trabalho apresentariam maior prevalência de hipertensão arterial.
 
A Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia aponta que alguns autores reconhecem a importância o poder do mecanismo mediador pelo qual, os fatores psicossociais no ambiente de trabalho podem aumentar o risco de HAS e de doença isquêmica do coração.
 
Agora um fato curioso: já que percebemos evidências consideráveis entre fatores do trabalho e HAS, porque a redução da incidência dos fatores de riscos ocupacionais não estão dentre as principais medidas de intervenção para a prevenção da HAS, indicadas pela Sociedade Brasileira de Cardiologia?
 
As Diretrizes citadas acima aponta que o “controle do estresse emocional” pode contribuir para a prevenção da HA, carecendo ainda de mais estudos robustos nesse sentido. Ela cita algumas formas desse manejo do estresse, porém não cita nada em relação aos fatores do trabalho.
 
Nós, Ergonomistas, sabemos como a Ergonomia pode ajudar nesse processo, identificando os fatores de riscos que causam aumento na demanda cognitiva/comportamental/psicológica, através, por exemplo, da identificação das entradas (inputs), processamentos e saídas (outputs) das atividades mais frequentes ou que geram mais problemas sobre os trabalhadores.
 
Atividades que geram alta demanda psicológica podem causar ou agravar o estresse, como o aumento da carga mental de trabalho  (como para guardar muitas informações ou para observar algum requisito que não pode passar despercebido em milhares de produtos); o baixo nível de controle sobre o próprio trabalho (em que você não consegue resolver os principais problemas das atividades que você faz, sempre tendo que pedir autorização para seu superior); ou o reduzido suporte social no trabalho (como pouco apoio da sua equipe ou do seu chefe para resolver problemas).
 
Por mais incrível que pareça, o iFacilita pode te ajudar muito nessa situação, por exemplo, realizando o cruzamento entre atividades de trabalho e os dados epidemiológicos que apontam quais atividades mais frequentes os hipertensos realizam.
 
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