AUTOMEDICAÇÃO E ERGONOMISTA
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O que o Ergonomista tem a ver com automedicação?

Dia 05 de maio é dia Dia Nacional do Uso Racional de Medicamento e queríamos chamar a atenção para esse assunto tão importante, que pode estar passando desapercebido dentro da “Análise da demanda” dos programas de Ergonomia.

Automedicação é o ato de tomar os remédios por conta própria, sem orientação de profissional de saúde.



A frase da imagem acima é polêmica e até o final do post, vamos tentar te convencer que isso é verdade!

Os medicamentos fazem parte da nossa vida. Desde criança temos contato com aquele “xarope com gosto ruim” ou com nossos pais nos dando medicação quando estávamos com febre.

Porém, os medicamentos são a principal causa de intoxicação no Brasil, segundo dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz.

A pesquisa feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) sobre uso de medicamento (abril/2019) mostrou que:

  • A automedicação é comum em 77% dos brasileiros;
  • Quase metade dos brasileiros se automedica pelo menos uma vez por mês;
  • 25% utiliza a automedicação todos os dias ou pelo menos uma vez por semana;
  • As mulheres são as que mais usam medicamentos por conta própria, pelo menos uma vez ao mês (53%);
  • Alguns (8%) apontaram o colega de trabalho como fontes da medicação.


Os analgésicos foram citados por 50% dos entrevistados como medicamentos mais comuns, dentre os indicados pelos profissionais de saúde.



Já dentre os utilizados na automedicação, os antiinflamatórios não esteroidais (AINEs) são os mais utilizados!

Isso acontece por esse tipo de medicamento ser utilizado no alívio das dores músculo-esqueléticas e síndromes dolorosas agudas e crônicas, as mais comuns entre os funcionários das corporações em que o Ergonomista atua. 

Pesquisas apontam que automedicação com AINEs correspondem a mais de  76% dos medicamentos utilizados!

No ambiente de trabalho, um estudo avaliando as condições de trabalho e sua relação com a automedicação em profissionais de saúde, usou a razão de prevalência (RP) como medidas de associação para mensurar a relação de ter condições ruins de trabalho e automedicação.
Independente do funcionário ter ou não problema de saúde, 67% dos entrevistados fazia uso de automedicação regularmente e 47% referiu o uso nos últimos 15 dias.

As condições avaliadas no estudo foram itens relacionados ao ambiente físico, às tarefas, às relações institucionais e às relações pessoais, sendo principalmente função, tempo de trabalho total e na instituição, outros vínculos empregatícios, carga horária, absenteísmo, números de atendimentos aos usuários e fatores estressores psicossociais.

No estudo, as condições de trabalho foram avaliadas como inadequadas:

  • Em 38% dos casos para o ambiente físico;
  • Em 46% para os aspectos relacionados às tarefas
  • Em 34% para as relações institucionais
  • Em 37% para as relações pessoais. 


Para todos os itens acima, o RP foi significativo, mostrando que pode haver associação entre condições inadequadas de trabalho e automedicação, apesar do intervalo de confiança estar “embaçando” uma análise mais fidedigna.

Considerando o ambiente físico, os itens mais referidos como inadequados foram:

  • A manutenção do prédio (67%)
  • O mobiliário (48%)
  • A insuficiência de espaço (44%)


Considerando os aspectos relacionados às tarefas, destacaram-se:

  • A falta de recursos para o trabalho (83%)
  • A realização de tarefas muito variadas (65%)
  • O excesso de trabalho burocrático (54%)


Quanto às relações institucionais, os destaques foram:

  • Não estar de acordo com o andamento do trabalho (38%)
  • Falta de reconhecimento pelo trabalho (30%)
  • Medo de ficar sem trabalho (19%)


Por último, os destaques referentes às relações pessoais foram:

  • Não ver condições de progredir no trabalho (49%);
  • Perda de tempo com outras tarefas (35%)
  • Pensar que seus erros podem afetar outras pessoas (19%)


O uso de AINS vem aumentando no mundo e dentro do ambiente das corporações não é diferente: é MUITO comum os funcionários terem nas suas bolsas, um antinflamatório. Até nas “caixinhas de remédio” da própria empresa, distribuídos por pessoas que não são profissionais de saúde e sem prescrição formal. Isso acontece só nas que eu conheço? 🤫

Existem mais de 50 diferentes antiinflamatórios no mercado brasileiro e NENHUM deles pode ser considerado como “ideal” por não ser eficiente em todos os casos e pelo elevado número de efeitos colaterais que proporcionam.
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A automedicação, muitas vezes vista como uma solução para o alívio imediato da dor, além de traz conseqüências graves pro trabalhador, como distúrbios intestinais, efeitos renais adversos, distúrbios da medula óssea e distúrbios hepáticos.



De forma gera, o uso de medicamentos de forma incorreta pode levar a: 

  • Atraso no diagnóstico correto da doença, devido ao mascaramento dos sintomas;
  • Agravamento do distúrbio, em si;
  • Possibilidade de provocar dependência;
  • Possibilidade da ocorrência de efeitos adversos que são indesejados e podem ser graves;
  • Problemas decorrentes da interações medicamentosas, uma vez que um medicamento pode anular ou potencializar o efeito de outro;
  • Reações alérgicas que podem variar de leves, moderadas a até graves;
  • Criar resistência a micro-organismos, como no caso dos antibióticos;
  • Intoxicações, que podem inclusive serem letais.


Além de tudo o que foi dito, a automedicação não resolve a origem do problema, o que muita das vezes pode ser feito com a ajuda do Ergonomista! Usando apenas a medicação, logo logo a dor voltará e, às vezes, bem pior! 

O fato do funcionário ter tomado um remédio para disfarçar a dor, engana o cérebro, o qual deixa de alertar o funcionário que “aquele movimento” ou ”aquela posição” está causando problema. A dor é um mecanismo que faz com que a pessoa evite de realizar o movimento ou permanecer na postura que causam dor.
A falta da dor como aviso enviado pelo cérebro, faz com que o funcionários continue excedendo as estruturas (músculos, tendões, ligamentos etc), causando agravamento da lesão, causando mais dor: isso é um ciclo conhecido entre os profissionais de saúde e que deve ser interrompido com a ajuda do Ergonomista.

O Ergonomista analisa as interações entre os elementos do sistema e investiga qual(s) a(s) causa(s) que levou ao trabalhador se exceder, propondo melhorias para eliminar ou minimizar o problema!

Ergonomista: você já adiciona as queixas de dor entre as demandas, na fase de “Análise da Demanda” da sua investigação ergonômica, certo!? 

Já pensou em adicionar   algo sobre a automedicação na “Observação sistemática”, provando ainda mais que naquele seu cliente os funcionários não relatam dor pois muitos estão tomando antiinflamatório ou analgésicos?

Muitos já fazem isso, nós sabemos, mas aí vai o lembrete: adicione como item a ser investigado (lembra da “Situação a ser estudada”?) a identificação dos fatores que levam o trabalhador a sentirem dor. 

Se formos seguir um passo a passo, seria?
1. Levantar as queixas de dores, estratificando por setor, cargo, atividade ou posto de trabalho;
2. Identifique claramente os complexos articulares que são fonte da dor (ex.: coluna lombar, ombro, joelho etc).
3. Pergunte ao trabalhador a opinião dele sobre o porquê ele tem essa dor. Parece bobeira, mas em ambientes de trabalho, o funcionário sabe exatamente o que causou aquela dor, pois ele repete isso centenas ou milhares de vezes no dia...
4. Realizar a análise da interação entre os elementos que levam ao trabalhador sobrecarregar tais articulações, analisando postura, movimentação (repetitiva ou estática), transporte de peso e tempo de permanência naquela situação (tempo unitário e total).
5. Realize testes de protótipos que possam eliminar ou atenuar as situações de risco, antes da medida final. Ajustes os pontos que precisam ser melhorados e caso não tenha mais nenhum relevante, aprove e implante definitivamente.
6. Crie documentação comprobatória que houve a melhoria e que ela foi aprovada pelos trabalhadores.

Nós demos exemplos sobre as lesões osteomusculares, mas claro que esse conceito também se aplica a outras doenças, como sintomas de asma, por exemplo, em trabalhadores expostos a poeira de madeira ou tinta. Faça a mesma análise e encontre os motivos centrais que levaram os trabalhadores a automedicarem.

Além de ser um problema que o Ergonomista pode ajudar a resolver, a automedicação, por se tratar de um problema de saúde, deve ter também a participação da equipe de saúde. Enfermeiros do trabalho, médicos do trabalho, fisioterapeutas do trabalho e outros profissionais podem ajudar o Ergonomista a levantar dados, propor medidas e resolver a situação da automedicação.

Para os Ergonomista da Gestão em Ergonomia, que tal colocar o “relato de automedicação no último mês” como indicador?

E agora, repetindo a pergunta: O Ergonomista tem a ver com a automedicação? Claro!! tudo depende da demanda que ele identifica e caso a automedicação seja uma delas, ele está apto para resolver!!

Agora responde nos comentários embaixo, se você concorda que isso é problema da ergonomia. Comenta aí se você já teve alguma experiência em relação a isso...

Referências
Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox), da Fundação Oswaldo Cruz
pesquisa feita pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF)
https://www.scielo.br/pdf/rbepid/v10n1/07.pdf

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