1 - Começando do começo: o que é um artigo científico?
Com a pandemia do novo coronavírus, tem sido cada vez mais comum ouvirmos falar em “evidências científicas” e “estudos científicos”. Os veículos de comunicação divulgam a todo momento resultados de estudos sobre vacinas, novos medicamentos, etc.
No Jornal Nacional, o William Bonner dá a notícia: “Pesquisadores de Oxford anunciam a eficácia de uma vacina contra o novo coronavírus desenvolvida no Reino Unido”. Você pensa: “Que maravilha!”
Mas você já se perguntou como os cientistas anunciam suas descobertas ao mundo?
Os resultados de uma pesquisa científica são divulgados oficialmente através das revistas científicas, no formato de um artigo científico. Então, carx amigx, um artigo científico nada mais é do que o formato utilizado pelos pesquisadores para divulgar os resultados do seu trabalho ao mundo.
Mas como em ciência tudo precisa ser realizado de forma metódica e padronizada, os artigos científicos também precisam seguir certas normas (e de seguir normas, a gente entende, não é ergonomista?). São essas normas, esse formato padronizado de escrita, que podem deixar um artigo difícil (e até chato) de ler.
Mas calma, falaremos melhor sobre o formato dos artigos científicos em um outro post dessa série, ok?
Com a urgência em saúde pública ocasionada pela COVID-19, tem sido comum que os resultados preliminares de estudos importantes sobre a doença sejam noticiados pela mídia antes de serem oficialmente publicados. Porém, uma pesquisa só é oficialmente reconhecida pela comunidade científica quando é publicada em uma revista científica.
Mas por quê? É o que veremos agora.
2 - As revistas científicas e suas particularidades
Revistas ou periódicos científicos são publicações que objetivam divulgar os resultados de novas pesquisas e contribuir para o avanço da ciência. Representam a principal fonte de conhecimento para estudiosos e pesquisadores de todas as áreas. Embora possam apresentar algumas diferenças entre si, todas elas têm uma característica em comum: a revisão por pares.
Funciona assim: um grupo de pesquisadores deseja publicar os resultados de um estudo em uma determinada revista. Essa escolha costuma ser baseada no escopo do periódico, ou seja, nos principais assuntos abordados por ele, bem como em seu prestígio junto à comunidade científica (falaremos melhor sobre a qualidade das revistas científicas em outro post dessa série. Após o envio do trabalho à revista escolhida, uma primeira avaliação é feita pelo corpo editorial, que analisará se o estudo tem relação com o escopo do periódico e se apresenta potencial para publicação (em outras palavras, eles avaliam se vale a pena “gastar o tempo” dos revisores com aquele trabalho). Em caso positivo, o trabalho é enviado para avaliação dos revisores da revista. É aí que começam os jogos…
2.1 A revisão por pares
Para definição quanto a sua publicação ou não pela revista, o estudo é enviado para avaliação de outros pesquisadores, chamados de revisores. É por isso que o processo se chama revisão por pares: são pesquisadores avaliando o trabalho de outros pesquisadores.
Para evitar uma avaliação parcial (ou seja, um coleguinha avaliando o trabalho de outro coleguinha), os avaliadores não são informados quanto à identidade dos autores do estudo (e vice-versa). Assim, espera-se que a avaliação seja imparcial e leve em conta apenas os aspectos técnicos do estudo.
Cada revisor, após sua análise, emite um parecer sobre o trabalho, recomendando sua publicação ou não pela revista. De modo geral, o trabalho é avaliado por três revisores, sendo publicado caso seja aprovado por pelo menos dois deles. É fácil deduzir que quanto mais prestígio tiver uma revista, mais difícil será conseguir publicar nela, certo?
3- Mas qual a relevância de tudo isso?
Todo esse processo visa garantir a qualidade e confiabilidade dos artigos publicados.
Quando um estudo é aprovado por uma revista científica, significa que ele passou por um rigoroso processo de avaliação, feito por especialistas da área e de forma anônima.
É claro que isso não elimina a possibilidade de fraudes, como fabricação de dados ou favorecimento de determinados grupos de pesquisa, mas dificulta muito! Então, quando você estiver lendo um artigo publicado em uma revista científica, lembre-se que aquele trabalho passou por uma série de avaliações antes de chegar a você, uma espécie de “controle de qualidade”.
É totalmente diferente de, por exemplo, ler um post neste blog. Embora a gente se esforce para entregar a você Ergonomista o melhor conteúdo possível, nossos textos não passam por uma revisão por pares (mas são feitos com muito empenho, pode acreditar, o editor é chato!).
Isso significa que “procurar no Google” informações sobre algum assunto, embora possa ser muito útil, não garante a qualidade e a veracidade das informações encontradas.
Já um artigo científico, embora não seja infalível, representa uma fonte muito mais confiável de informações para a sua prática profissional. Além de ser mais chique né?
Imagine-se justificando uma recomendação ergonômica para uma empresa. Dizer que “essa recomendação está baseada em evidências científicas” agrega muito mais valor do que dizer “devemos fazer isso porque eu vi no Google”. Concorda?
E aí, gostou do post? Então continue nos acompanhando que em breve lançaremos mais novos textos nesta série.
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